quarta-feira, 1 de abril de 2015

Campanha de doação e o velório do Bahia




Com profunda tristeza, anunciamos e convidamos toda a rede de apoio das ocupações urbanas de Belo Horizonte para o Velório do companheiro Bahia, um dos maiores guerreiros da luta por moradia própria, digna e adequada, por reforma urbana e justiça social. O corpo de Bahia deve chegar à Ocupação Vitória hoje, quarta-feira, às 13h, e o velório se estende até às 21h.

Haverá um ato de homenagem às 16h e outro às 20 h. Às 21h o corpo deve ser levado da Ocupação Vitória por um carro funerário para ser sepultado na cidade de Paulo Afonso, Bahia. O Bahia voltará para a Bahia, grande sonho da mãe dele.

Às 14h o povo da Ocupação Rosa Leão sai em marcha – passando pela Ocupação Esperança, que se junta à caminhada – para chegar à Ocupação Vitória por volta das 15h30. É o encontro das ocupações de Izidora para a celebração do guerreiro Bahia.

Esperamos a maior representação possível de todas as Ocupações de BH e RMBH. Venham consolar os aflitos!

Um pedaço de nós morreu com Bahia, porém aquilo que é vivo em nós se fortalece nesta dor. Não será inútil o sacrifício deste amigo e companheiro.

Agora, PRECISAMOS DE APOIO para doações. Os custos do velório estão em torno de R$ 10 mil, incluindo o translado do corpo e passagens de familiares. Seguem os dados:

Depósito ou transferência

Banco: Caixa Econômica

Agência: 1667

Operação 003

Conta Corrente: 1811-7

Nome: Centro de Cooperação Comunitária e Popular – Casa Palmares

CNPJ: 12.528.103/0001-08

A tarde mais triste. Companheiro Bahia assassinado. BH, 31/03/2015

Com profunda tristeza, compartilhamos a nota de falecimento do companheiro Bahia, morador da ocupação Vitória-Izidora, assassinado na tarde de ontem por especuladores infiltrados na ocupação, publicada no blog do Frei Gilvander.



Hoje, 31 de março de 2015, a tarde mais triste das ocupações da região da Isidora, em Belo Horizonte e Santa Luzia, MG. Morreu Manoel Ramos, o Bahia, coordenador da Ocupação Vitória e valoroso militante da luta das famílias sem-teto da capital de Minas Gerais e da Região Metropolitana de BH. Por volta das 15:00h o Bahia foi assassinado a golpes de machado e facão por oportunistas infiltrados na comunidade Vitória, indivíduos que pretendiam lucrar com a luta de milhares de famílias que lutam aguerridamente por moradia própria, digna e adequada. Bahia tombou no lugar onde sonhou viver, um sonho que não era só dele, mas compartilhado por milhares de famílias que desejam se libertarem do aluguel e da humilhação de sobreviver de favor; um sonho de outras tantas pessoas, dentro ou fora das ocupações, que assumem o compromisso de construir uma cidade onde caibam todos e todas.

Bahia foi morto por se opor à venda de espaços dentro da ocupação, por procurar garantir que aquela comunidade acolhesse apenas aqueles e aquelas que realmente necessitam de teto. Morreu por ser justo e por fazer do princípio da igualdade seu maior estandarte. Foi vítima da cobiça intolerável de poucos, da intransigência dos poderes públicos em construir uma solução justa, pacífica, negociada e rápida para o maior conflito social urbano do Brasil, hoje instalado na Região do Isidora. Foi a ausência de uma política efetiva de Reforma Urbana que fez do Bahia uma vítima, e nos privou a todos da presença deste gigante em coragem e generosidade.

Bahia era há meses vítima de ameaças, por seguir as determinações coletivas que impedem a venda de lotes em áreas ocupadas. Também foi sobrevivente de um atentado contra sua vida executado por PMs, fato que quase o levou à morte, isso por se opor às violações de direitos promovidas por policiais militares contra os moradores da Ocupação Vitória. Bahia nunca se intimidou. Seguiu lutando, denunciando e construindo o futuro de milhares. Um futuro que lhe pertence e que lhe foi negado.

Um pedaço de nós morreu com Bahia, porém aquilo que é vivo em nós se fortalece nesta dor. Não será inútil o sacrifício deste amigo e companheiro. Bahia morreu por defender a justa luta por dignidade, por uma cidade aberta, na qual todos/as e cada um/a possam conviver em plenitude. Diante de um gesto de tanta coragem, não temos o direito de desistir. Devemos levar às últimas consequências o exemplo deste extraordinário ser humano. Devemos lutar, resistir e vencer, coletivamente. 

Se tentaram, pelo medo, impor uma ordem injusta, será pela coragem de moradores/as, apoiadores/as e organizações que prevalecerá a igualdade e a Vitória. Seguiremos combatendo toda e qualquer tentativa de utilização indevida da luta de tantos e tantas.

Cabe aos governos evitar que esta situação se repita, e que de uma vez por todas garanta o direito de todas as famílias sem-teto das ocupações urbanas de Minas Gerais.

Não toleramos mais pagar com sangue a intransigência dos governantes, a insensibilidade do judiciário e os interesses dos empresários.

A tarde mais triste nos desola. Esta noite choramos sobre o corpo de um de nós. Amanhã nos daremos conta que estamos vivos, e que o tributo cobrado pelo que tombou, é a marcha firme dos que vivem. Nos manteremos sempre de pé.

Companheiro Bahia. PRESENTE!

Belo Horizonte, MG, Brasil, 31 de março de 2015.

Assinam essa Nota,
Brigadas Populares;
Comissão Pastoral da Terra (CPT);
Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB);
Coordenação das Ocupações Vitória, Esperança e Rosa Leão
e Rede de Apoio.